OBSTINAÇÕES Acredito que já qualifiquei as plantas de muitas maneiras. Menos de obstinadas. E talvez não tenha palavra melhor para definir esses seres que não desistem jamais. A criatividade absurda delas em prosperar é fantástica. Sempre há uma solução em encontrar lugar para suas raízes. Para buscar a luz do sol então, são obcecadas, fazem valer qualquer truque. Mas será que a gente não é assim também, cada um a sua maneira? Bem ou mal, com textos bons ou ruins, sou obstinado por escrever. Talvez só isso explique que, depois de passar o dia inteiro editando, escolhendo fotos, lendo ou escrevendo, minha distração para descansar a cabeça em casa seja… escrever. Então, anoto as coisas que eu quero, falo das porradas que a vida me dá pra ver se eu aprendo, descrevo as cenas mais importantes da minha vida. Um tipo de terapia de alguém que tem a cabeça entupida de letrinhas. E sementes. Como acontece com tudo que a gente faz por prazer, fui acumulando textos e aos poucos vi que cada vez mais eu estava misturando plantas com minhas memórias. Me dei conta de que, ao longo da minha vida, sempre estive com alguma planta por perto. Desde que nasci, numa fazenda aos pés de um enorme jatobá e tive meu cordão umbilical enterrado entre suas raízes, até a chácara que tenho hoje pela qual tenho uma enorme estima. Foi quando o universo conspirou a meu favor numa fala da Tamar, aqui do Atendimento da Editora Europa: "Você devia escrever um livro com suas memórias. | CRÔNICAS DA NATUREZA | Se quiser me mandar uma mensagem, meu e-mail é araujo@europanet.com.br. E ficarei feliz se você me seguir no @roberto_natureza Ilustração: Shutterstock AI Tenho certeza de que as leitoras e os leitores da Natureza iriam adorar. Eu ia vender muito seu livro". Aí entrou em cena a segunda obstinação de todo mundo que escreve: ser lido. O sentimento de aceitar outra pessoa dentro de seus pensamentos, de compartilhar um pedacinho de sua alma, é uma forma magnífica de evitar a solidão. O gosto de compartilhar emoções com quem tem a mesma sintonia que você. Se isso é muito bom em revistas, em livros é algo muito mais intenso. Sempre penso que um livro é um portal. Não é para todo mundo. Ninguém "folheia" um livro. Ou lê ou nem nota. Escreve daqui, reescreve de lá, cometi um não- -livro de umas 300 páginas nas quais exorcizei todos os meus demônios. Livro que não tinha vontade de publicar. Mas precisei passar por isso para encontrar uma escrita de paz, inspirado nas plantas que acompanharam minha trajetória. Noite após noite eu fui mesclando minhas memórias com as plantas mais importantes de minha vida. Foi assim que nasceu Alma de Jardineiro, meu novo livro, ainda inédito, que é um misto de memórias e reflexões da minha longa trajetória de setentão. Se O Poder do Jardim foi onde eu contei meu reencontro com a Natureza, o Alma de Jardineiro é como estamos agora, 25 anos depois. Não sei dizer se o livro é bom ou ruim. Depende se você vai querer cruzar esse portal. Minha obstinada alma de jardineiro está lá dentro.
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