NATUREZA | 55 a celulose, que confere rigidez à célula e que também a mantém fixa. Portanto, as células tumorais têm uma capacidade limitada de invadir tecidos vizinhos. O crescimento desordenado de células vegetais resulta na formação de galhas, estruturas que são tumores, mas que não têm a capacidade de se espalhar. Além disso, plantas não apresentam um sistema circulatório, pelo menos não como nos animais, capazes de transportar células por todo o corpo. O conjunto de vasos em plantas, compostos por xilema e floema, não tem, nem de longe, a capilaridade das veias e artérias humanas, o que também limita a capacidade de disseminação de tumores. Outro fator protegendo as plantas da ocorrência de cânceres é que, nos vegetais, todas as células são capazes de se diferenciar em qualquer tecido. Isso significa que um conjunto de células que tenha sido afetado de forma incorrigível pela radiação pode ser facilmente substituído por outras células próximas, que irão se diferenciar no tipo celular afetado e suprir as necessidades do organismo, substituindo o tecido danificado. Mas parece haver outros motivos para que plantas não apresentem câncer como os animais. Plantas são incapazes de se mover, ficando expostas às condições ambientais 24 horas por dia. Imagine um ser humano exposto à radiação solar 100% do tempo. Ele certamente desenvolverá algum tipo de câncer. Mas o mesmo não acontece com plantas, onde a baixa frequência de tumores sugere que os mecanismos de supressão tumoral são muito mais eficazes em plantas do que em animais. Isso pode ser atribuído ao maior grau de redundância que as plantas apresentam dos mecanismos que regulam a proliferação celular. Em animais, uma mutação em um gene crucial leva, inexoravelmente, ao descontrole da proliferação, porque não existem outras cópias do gene afetado. Mas plantas têm duas ou três cópias de vários genes importantes para controlar a divisão das células. Isso faz com que uma mutação que poderia causar câncer em animais não tenha o mesmo efeito em plantas, uma vez que as outras cópias do gene corrompido darão conta de manter a divisão celular sob controle. Essas características únicas dos vegetais permitem que elas resistam a tragédias como a da bomba atômica e a do acidente nuclear de Chernobyl, e as convertem em testemunho vivo do poder de regeneração e um símbolo de renascimento. As plantas e sua capacidade de resistência são como se, em meio à barbárie, houvesse um sinal de que temos uma segunda chance, uma forma de recomeçar, e de tentar fazer diferente. Devemos estudar os mecanismos que garantem essa resiliência, mas muito mais do que isso devemos tomá-las como exemplo e como fonte de esperança em um mundo mais limpo e menos belicoso. Na cidade fantasma de Pripyat, na Ucrânia, que fica dentro da Zona de Exclusão de Chernobyl, as plantas tomaram conta. Radiação não gera câncer nos vegetais. As células destruídas são substituídas por outras saudáveis rapidamente O salgueiro-chorão (Salix babylonica) estava a apenas 370 metros do centro da explosão. O tronco original foi quase completamente destruído e queimado, mas as raízes sobreviveram. Novas brotações surgiram da base, transformando-se na árvore majestosa que se vê hoje

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