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ETC

&

TAL

58

|

RevistaMundo

Após algumas tentativas frustradas de

conseguir meu primeiro licenciamento,

viajei para Nova York em 1989 como

intuito de contatar editores independentes.

Chegando lá, entrei na gibiteria JimHanley

Universe e comprei várias HQs que achei

o desenho ou a história interessantes. O

primeiro da lista era umone-shot de terror

comDrácula, Lobisomeme Frankestein

juntos, publicado por Neal Adams, meu

herói de infância. Cheguei a contatá-lo,

conversamos, mas a coisa não prosperou.

De volta ao Rio de Janeiro, pesquisei

a caixa de revistas que tinha comprado

e encontrei a série

Hero Aliance

, de Kevin

Juaire e David Campiti (roteiro) e Bart

Sears e Ron Lim (desenhos), que tinha

umconceitomeio

Watchmen

– heróis

vivendo nomundo real. Era perfeito para

a Elipse. Mandei uma proposta por fax

para a Innovation Comics que, paraminha

surpresa, respondeu positivamente em

apenas 24 horas. Duas semanas depois,

recebemos umpacote comcópias de alta

qualidade empreto e branco da série.

Paulo Albuquerque, umgrande amigo

meu, fez a tradução da HQ e passamos

tudo paraWaldemar Valim, um letrista do

Rio. Baseado em

Crepúsculo dos Deuses

, o

famoso filme de BillyWilder, decidi adaptar

o quadrinho emportuguês para

Crepúsculo

dos Super-Heróis

, cujo logotipo eumesmo

desenhei. Como sempre adorei as artes

pintadas de Earl Norem, o capista do Conan,

pedi aoMárcio Costa, um ilustrador da RGE,

que criasse algo nessa linha. Coma arte

deMárcio e o logo pronto, criei o layout da

capa – tudomanualmente, como fazíamos

naquela época ainda semcomputadores.

Apresentamos omaterial, em

formatomagazine, para a distribuidora

Fernando Chinaglia, que

nos aconselhou a imprimir

80mil cópias para atingir o

Brasil todo. Assim,

Crepúsculo

dos Super-Heróis

1 chegou

às bancas em 1991 e vendeu

25mil cópias. Umnúmero

razoável mas insuficiente para pagar os

altos custos de produção. Mas essa venda

impressionoumeu amigo Paulo Adolfo

Aizen, editor da Ebal, que propôs uma

joint-venture

para lançar a continuação

de

Crepúsculo

, dessa vez tudo colorido e

comdivisão dos custos. Claro que topei e

voltamos ao trabalho.

A Innovationmandou rapidamente

os fotolitos comas separações de cores

e o Valdemar raspou o texto em inglês,

escrevendo as letras comcaneta nanquim

direto nos filmes do preto – coisa que eu

nemsabia que era possível. Fernando

Albagli, umdos sócios e responsável pela

gráfica da Ebal, disse que a técnica não

funcionaria e sairia falhado na impressão.

N

os anos 1980, desbravar o mercado independente dos

Estados Unidos – que bombava com empresas como

a First, Eclipse e Eternity – ainda era tabu entre os

editores brasileiros. O foco deles era investir só nos

conhecidos heróis da Marvel e DC. Acontece que, para muitos

de nós, fãs de quadrinhos, isso já não era o suficiente. Mas, e se

pudéssemos nos tornar editores e publicar nossos próprios títulos?

Com essa ideia na cabeça, criei a editora Elipse e fui à luta.

Por John Calvet*

*

John Calvet é dono da empresa Ideograph, onde

trabalha como roteirista, produtor e diretor de filmes

A venda de

Crepúsculo dos

Super-Heróis

impressionou

a Ebal, que propôs parceria

Para nossa sorte, deu tudo certo. Cortamos

o logotipo de

Hero Alliance

do fotolito da

capa e o substituímos por umacetato com

aquele que eu havia criado. Dessa forma,

pudemos aproveitar a capa do número 1

americano commodificaçõesmínimas.

Depois demuito trabalho, a nova edição

de

Crepúsculo

estava nas bancas e a Ebal,

afastada há anos domundo dos super-

heróis, marcava umsuposto retorno ao

mercado de quadrinhos. Mas a tensão e as

dificuldades daquele trabalho acabaram

nos desgastando a ponto de desistirmos

da parceria e

Crepúsculo dos Super-Heróis

foi uma das últimas revistas da Ebal,

que encerraria suas atividades poucos

anos depois. Tambémdesisti daminha

carreira de editor mas ainda guardo boas

lembranças daquela breve experiência.

No alto, a primeira edição

de

Crepúsculo

em PB.

Ao lado, a versão colorida

lançada pela Ebal

crepúsculo

deumeditor