

Técnica&Prática
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Para fazer as imagens das Cataratas do Iguaçu, no Paraná, acima, e de Machu
Picchu, no Peru, abaixo, o fotógrafo precisou ter muita paciência
e persistência para esperar a chuva passar e aguardar a luz do fimdo dia
estudá-lo. É o momento para avaliar
enquadramentos, escolher os
pontos de onde irá fotografar e
definir o horário, analisando a órbita
do sol em relação ao tema com o
uso de uma bússola. O ideal é fazer
anotações em um caderno para não
esquecer. Então, volta-se no dia
seguinte no horário escolhido já
tendo os pontos predefinidos, sem
desperdiçar tempo à procura deles.
Além disso, quanto mais você
permanecer num local específico,
seja na natureza ou na cidade,
maiores as possibilidades de
conseguir imagens originais, que
fogem do lugar-comum. É a forma
de superar os clichês e as imagens
padronizadas, exaustivamente
publicadas em cartões-postais e na
internet. Mesmo assuntos
superconhecidos, como a Torre Eiffel
ou o Cristo Redentor, também
podem ser fotografados de formas
inesperadas. Basta tempo e ousadia
para experimentar novos ângulos e
cortes criativos.
O americano Alain Briot, autor
de livros sobre fotografia de
paisagens, ensina que sempre que
está em campo o fotógrafo deve
tentar criar algo que nunca fez
antes. “Saia da zona de conforto e
quebre as regras. Os resultados
podem surpreender, vão ampliar a
sua visão e aproximá-lo da
fotografia autoral”, ensina.
ESTADO DE ESPÍRITO
Persistir em um tema e reservar
tempo a eles não significa
fotografar loucamente. Quantidade
não faz a qualidade. Araquém
Alcântara diz que percebe um erro
comum entre seus alunos de
workshops de natureza. “Muitos
chegam apressados e saem
disparando a câmera antes mesmo
de olhar com calma as cenas
diante deles. É preciso calma para
perceber. Não basta uma rápida
olhada”, disse.
Fotografar não é só uma
questão de técnica e equipamento,
relaciona-se sobretudo com a “arte
do ver”, de prestar atenção nos
sentimentos que a cena desperta
em você. E então buscar uma
forma de transmitir isso na
imagem. O mais importante talvez
seja o exercício do “não fotografar”.
Porque é durante o não fotografar
que realmente se vê. Com a câmera
à frente do rosto o tempo todo,
como é possível ter um insight ou
perceber detalhes que podem
fazer a diferença?
Uma dica é trabalhar a lentidão.
Gaste mais tempo olhando do que
fotografando, relaxado, mas atento.
As distrações são perigosas. Ficar
Tales Azzi
Jornalista profissional formado
pela Unesp em 1999, Tales Azzi foi
repórter de
Fotografe Melhor
entre 2001 e 2004. Há dez anos
é repórter
especial da
revista
Viaje
Mais
, também
da Editora
Europa, para
a qual produz
textos e fotos
em viagens
nacionais e
internacionais.