

O surgimento da fotografia revolucionou o regi-
me de representação vigente na sociedade oito-
centista. Dentre as principais “enfermidades” que
acometeram os “adoradores do Deus Sol”, nas
palavras do poeta Baudelaire, destaca-se a “febre
do retrato”. O que era privilégio de uma elite endi-
nheirada logo tornou-se acessível às massas. Multi-
dões de narcisos lançaram-se na busca de ver seus
traços registrados para a posteridade na superfície
de um papel fotossensível.
Até bem pouco tempo atrás, para obter um bom re-
trato era preciso dirigir-se a um fotógrafo, em uma es-
pécie de ritual alquímico, durante o qual colocávamos
nas mãos de outrem a missão de construir uma imagem
idealizada de nós mesmos. Hoje em dia, no extremo
oposto, um turista através de um selfie não apenas faz
seu próprio retrato como registra sua geolocalização, ávi-
do por gravar vestígios que extrapolem a vida corriqueira
nas timelines das redes sociais.
Na era dos dispositivos eletrônicos e da comunicação em
rede, cada qual comanda seu próprio espetáculo. Em tese,
o indivíduo hoje é dono da construção completa de sua
imagem, como se cada um de nós tivesse uma agência de
marketing à nossa disposição.
E o fotógrafo? Somos da teoria que, num mundo onde to-
dos fotografam, fotógrafo é aquele que edita, que constrói as
narrativas, nos aproximando cada vez mais de uma fotografia
com origens na história oral. A memória do futuro depende es-
sencialmente desses contadores de histórias.
Fotógrafos – tanto os de artes quanto os de ofício – têm en-
contrado no retrato um instrumento criativo para tratar de seus
temas. Se, por um lado, o pau de selfie resolve uma questão
de afirmação de identidade e de pertencimento, por outro lado, o
retrato também tem sido ferramenta para que fotógrafos e artistas
contemporâneos construam narrativas cada vez mais elaboradas.
Há exatos 10 anos o Paraty em Foco vem se encarregando de fo-
mentar discussões contemporâneas acerca da imagem. Em sua
11a edição, o Festival propõe um debate sobre a representação e a
autorrepresentação na era dos dispositivos eletrônicos. Traga seus
gadgets, imagens, ideias, conceitos e preconceitos e venha deba-
ter com fotógrafos, pensadores e outros grandes profissionais deste
campo, vindos dos quatro cantos do mundo.
paratyemfoco.com
2015
representação e
autorrepresentação
na era dos dispositivos
23-27/09/2015