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VIAJEMAIS
LUXO
AUSTRÁLIA
junho de 1770, experimentou a pior delas: encalhou
ali seu navio Endeavour, que teve seu casco perfura-
do pelos afiados recifes. Por 20 horas, os homens de
Cook lutaram para salvar o navio, bombeando para
fora a água e jogando cargas ao mar, inclusive ca-
nhões, para aliviar o peso. Mais leve, o Endeavour foi
salvo e Cook demorou dois meses para consertar o
estrago e prosseguir viagem. Encalhou porque nunca
outro navio europeu havia passado por ali e era ele
quem fazia pela primeira vez os mapas da região.
Pensava em Cook quando o helicóptero deco-
lou do heliporto do resort e, em poucos minutos,
mostrou do alto o mundo multicolorido da Grande
Barreira. Ele jamais viu daquele ângulo toda a beleza
que descobriu. Fica quase na superfície e, em alguns
locais, parece até estar sobre a água. A viagem de
magníficos 50 km, dos 2.300 km que compõem a
Grande Barreira, terminou em uma plataforma no
meio do Pacífico, exclusivamente construída para o
pouso de helicópteros. Dali, um barco levou até uma
plataforma maior, onde estavam as roupas prepara-
das para quem quisesse ir reolhar os corais de perto.
Dessa vez havia correnteza no mar. Escondido
dentro da vestimenta preta, de máscara e
snorkel
,
era preciso usar as nadadeiras com mais força. Mais
FOTOS: ROBERTO ARAÚJO / 1 DIVULGAÇÃO
de uma vez tive de me apoiar nas cordas e boias
estrategicamente colocadas nas redondezas. Do alto
da plataforma, salva-vidas observavam. O código
combinado era simples: qualquer medo ou perigo,
bastava levantar o braço e uma moto aquática iria
até o local resgatar o temeroso mergulhador. Não
foi preciso. Eu já sabia o esquema: inspira, deixa-se
envolver pelo visual cheio de cores extraordinárias;
expira, vê o balanço das anêmonas; inspira, entra
no meio do cardume; expira, sente até vontade de
chorar de tanta beleza; inspira.
Mesmo que tenha uma câmera fotográfica à
prova d’água, pode se dar ao luxo de apenas curtir
o mergulho, sem se preocupar em documentar a
aventura submarina. Isso porque outro passeio, que
sai ali mesmo da plataforma, acontece em um barco
com fundo de vidro. Com qualquer celular, dá para
fazer excelentes fotos subaquáticas de corais ou
peixes enormes — e permanecer seco. A diferença
é que no barco a gente se sente apenas um obser-
vador e, no mergulho, faz parte de verdade daquele
mundo incrível.
PIQUENIQUE CHIQUE
De volta ao helicóptero, o piloto havia reserva-
do o mais emblemático recife para o voo da volta:
o
heart reef
, ou recife do coração, feito capricho-
samente pela natureza para a gente se encantar.
Encanto que tiraria meu fôlego quando apareceu a
praia de Whitehaven, considerada por muitos a mais
bela do mundo. As rochas das ilhas de Whitsunday
não têm a branca sílica, mas por milhões de anos as
correntes marítimas trouxeram de longe o mineral
e, além da praia, fizeram um desenho entre as ilhas
da região. Não há Photoshop que consiga tantos
tons de azul, turquesa ou branco.
O piloto chamou a areia de talco. Era 98%pura
sílica. A voz entrava pelos fones enquanto ele
manobrava o helicóptero sobre o mar do Pacífico
para pousar em Whitehaven. Apesar de tanta be-
leza, não havia ninguém na praia. Apenas um bar-
co solitário. Agitação por ali — guarde esta data
— será no próximo dia 13 de novembro, quando
haverá o “Whitehaven Beach Ocean Swin”, prova
de natação no mar que faz parte do triátlon das
Ilhas Hamilton.
Os dois helicópteros do passeio “O melhor de
dois mundos”, o bom apelido inventado pelo resort,
pousaram frente a frente. Os pilotos abriram o guar-
da-sol com o logotipo da One&Only, acomodaram
as bolsas térmicas repletas de comidas e bebidas.