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RevistaMundo
The Ohio State University Lantern, o jornal da
faculdade. Imaginava que isso seria umbom
treino caso eu resolvesse umdia vender uma
tira para jornais maiores. E também foi uma
boa experiência ver o que o público achava
engraçado e quais piadas não funcionavam. Só
fui mudar o nome da tira para Bone depois que
me formei [em 1986].
Assim que terminou a faculdade,
você tentou uma carreira na
animação. Por que ela não vingou?
Bem, a empresa de animação que eu criei com
dois outros sócios vingou e foi atuante durante
anos, produzindo e trabalhando emfilmes
criados àmão para os grandes estúdios de
Hollywood – incluindo a Disney. Fui eu que
quis cair fora. Perdi o interesse em trabalhar
comas criações de outras pessoas e resolvi tocar
meus próprios projetos.
Como foi que veio a Cartoon Books
e, consequentemente, a revista do
Bone?
Originalmente eu queria vender Bone
como uma tira diária para jornais, mas não
encontrei nenhum interessado. Então, em
1986, entrei emuma comicshop e descobri
omundo dos gibis independentes. Eu havia
comprado uma edição doMaus, de Spiegelman,
no começo daquele ano, e estava procurando
O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, sobre
o qual havia lido nos jornais. E o que encontrei
foi o Eightball de Dan Clowes, o Hate de Peter
Bagge, Love &Rockets dos irmãos Hernandez e
o Cerebus de Dave Sim. Fiquei viciado! Comecei
a assinar o Comics Journal e comprei todas
as edições da Raw [antologia independente
editada por Art Spiegelman e FrançoiseMouly]
queme caíramnas mãos. Ainda levei alguns
anos para adaptar minha tira para o formato
de série regular, mas assimque consegui, tudo
caiu como uma luva. Minha esposa Vijayame
ajudou a bolar umplano empresarial e estamos
publicando HQs desde então.
Em que medida
O Senhor dos Anéis
(de Tolkien),
Moby Dick
(de Herman
Melville) e a trilogia
Star Wars
“
Muitas mulheres já me disseram
que
Bone
foi o que as levou a ler HQs
e seguir carreira nessa área
”
Jeff Smith
influenciaram seu trabalho?
Há partes
de Bone que têmO Senhor dos Anéis nas veias.
Para ser mais preciso, os elementos fantásticos
emBone se inspiravam igualmente emTolkien
e nos quadrinhos adultos de fantasia que
vinhamda Europa naquela época, como os
que apareciamna revistaMetal Hurlant. O que
mais me entusiasmava em Star Wars era que
a trama se iniciou emum tomaventuresco e
evocativo, que cresceu ao longo de três filmes, e
acabou dando emuma históriamais soturna e
sofisticada. JáMoby Dick, alémde inspirar uma
das piadas mais populares emBone, também
serviu como exemplo do que se pode fazer
como simbolismo na literatura. O livro possui
camadas como as de uma cebola e recompensa
o leitor a cada releitura.
Você imaginava que
Bone
se
estenderia por 55 edições?
Não sabia
quantas edições seriamnecessárias para contar
toda a história. Mas sabia qual seria o final
e planejei produzir algo entre mil e duas mil
páginas. Foram 1.340 ou coisa parecida.
Bone
acrescentou algo novo ao
mercado de quadrinhos independentes
enquanto criação artística?
Difícil dizer.
A revista causou certo impacto que ainda se
mantématé hoje mas, na época, eu estava no
meio do processo, então talvez outras pessoas
possam ter uma respostamelhor para essa
pergunta. Muitas mulheres que estão no
mercado hoje jáme disseramque Bone foi
o que as levou a ler HQs e as fez decidir por
seguir uma carreira nessa área. Meu trabalho
mostrou a elas que dava para fazer tudo o que
se quisesse nas páginas de umgibi.
Sua parceria com a Image Comics,
entre 1995 e 1997, lhe ensinou alguma
coisa?
Elame mostrou que, se você deixar de
tocar violão e plugar uma guitarra, as pessoas
irão lhe odiar por causa damudançamas, no
fimdas contas, sua base de fãs irá aumentar.
Para os fãs de música, faço aqui uma referência
a Bob Dylan.
O que você acha das edições
brasileiras de
Bone
? Você chegou
a dar algum pitaco em como elas
deveriam ser feitas?
Eu não, mas talvez
Vijaya o tenha feito. Vijaya ainda é aminha
editora aqui nos Estados Unidos e cuida dos
licenciamentos para o exterior. De fato, no
momento emque lhe dou esta entrevista, eu
ainda não vi o primeiro livro da nova série
impresso, mas estou certo de que a HQM fará
umótimo trabalho. Artur [Tavares, editor da
HQM] estámuito entusiasmado e é uma pessoa
ótima para se trabalhar.
Em 2003, você trabalhou na
minissérie
Shazam! e a Sociedade dos
Bone
, a série que Smith concebeu por
diversão quando ainda era criança, rendeu
55 edições e mais de 1.300 páginas
Jeff Smith